terça-feira, 25 de setembro de 2012

A melhor coisa do ballet é saber voar.
Ah, como eu queria ainda saber voar...
Só assim eu voaria rápido para longe. 
Para longe de mim. Longe de ti. Longe de ti em mim.
Ah, como eu queria ainda sentir a dor que corre todo o corpo numa aterrissagem em quinta posição. 
A dor  do esforço, da insistência, da perfeição.
E essa voltaria a ser a única dor.
Ah, como eu queria ainda saber girar. E girar, e girar, e fouettes, e fouettes.
Girar até perder os sentidos e não mais saber nem onde ou quando. 
E só assim, perdida no tempo eu ia poder fugir. 
Fugir de mim. Fugir de ti. Fugir de ti em mim.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Eterno Retorno?

"Dir-se-ia que Lola estava colérica, mas era simplesmente porque o amava com paixão e se atormentava por causa dele. Havia momentos assim, mais fortes do que ela, em que se aborrecia sem motivo, se angustiava, contemplava Boris perdidamente, não sabia o que fazer dele e suas mãos se agitavam sozinhas. A princípio Boris estranhara, mas aos poucos se acostumara. Lola pousou a mão sobre a cabeça de Boris.
- Queria saber o que tem aí dentro - disse. - Me dá medo.
- Por quê? juro que é inocente - observou Boris rindo.
- Sim, mas não sei como explicar... Vem assim, espontaneamente, eu nada posso, cada um dos teus pensamentos é uma pequena fuga.
(...)
- Você está aí a meu lado, muito terno - disse Lola -, eu penso que você gosta de mim, e, de repente, não há mais ninguém, fico a imaginar para onde você fugiu."

(A Idade da Razão - Sartre)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Sou fútil, faço moda" (parte II)


Como já disse em algum post anterior, o tema arte/ moda me interessa bastante. E foi pesquisando, lendo e pensando sobre o assunto que me veio uma questão importante: quando e como foi que a moda passou a ser vista com essa aura de futilidade?

Pelo consumismo? Creio que não, caso contrario todo design seria visto de forma semelhante. Então por quê?

Culpa de Alessandro Lampregnani que já no séc XIX começa a editar revistas femininas? Também não acredito nessa hipótese já que imagino que ele não misturava o jornalismo de moda com fofocas de celebridades e afins.

Concordo com Alberto Malfitano, que diz que com o avanço das técnicas no passar dos anos, as imagens ganharam cada vez mais qualidade e, por isso, espaço nas revistas de moda fazendo com que o texto assumisse uma posição "absolutamente secundária" em relação às fotografias. Basta folear uma Vogue pra contatar isso.

Talvez isso faça com que a moda não seja vista como um conteúdo mais denso que necessite de textos, estudo e leitura, tornando inclusive as revistas de moda passa tempo para salão de beleza.

Uma pena. 

É necessário desmistificar a moda!

Fecho esse post com os dizeres de Anatole France, escritor francês ganhador do Nobel de Literatura (em 1921) e, portanto, imagino que nada fútil: 

"Se, do amontoado de obras que serão publicadas cem anos depois da minha morte, eu tivesse a possibilidade de escolher uma, vocês sabem o que eu escolheria [...] Dessa biblioteca do futuro eu não pegaria, não, um romance, nem um livro de história [...] simplesmente, meu amigo, eu pegaria uma revista de moda, para saber como as mulheres se vestirão um século depois da minha morte. E tais vestidos me dariam mais informação sobre a humanidade futura do que todos os filósofos, os romancistas, os pregadores e os cientistas juntos."

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ronaldo Fraga

Ronaldo Fraga é meu maior ídolo na moda brasileira. Aliás, pra mim, é um dos únicos estilistas que faz realmente moda brasileira contemporânea. O texto abaixo foi escrito pra matéria de Mercado e Produção de Moda Contemporânea na minha pós e fala sobre o estilista/artista e sobre sua coleção de Verão 2011.




Poesia. Esta é a palavra que pode traduzir a moda de Ronaldo Fraga. Uma poesia muito bem pensada e construída que cria uma moda contemporânea brasileira de qualidade e conceito. Conceito esse que consegue (e muito bem) transformar a cultura brasileira em roupas. Ronaldo Fraga é a favor de uma moda brasileira sem estereótipos; onde é possível falar de Brasil sem cair em coqueiros, araras, bumbum e carnaval.
Além disso, o ato de vestir é, para Ronaldo, um ato político, principalmente em um país com uma história de colonização que deixa nossa cultura num estado sublimado. As roupas do estilista servem de estímulo para a apropriação da identidade do povo brasileiro e envolvem questões efervescentes no Brasil, sem jamais ressalvar nas caricaturas de trajes típicos e de outras heranças folclóricas.
Revelado ao mundo da moda brasileiro no Phytoervas Fashion em 1996, Ronaldo Fraga conta com um repertório de mais de 25 desfiles que são esperados como um espetáculo de teatro ou de dança. Suas roupas são carregadas de bom humor, histórias, mesclando o erudito e o popular sempre baseando suas formas no conforto. Não se encontra nos looks do estilista tendências prontas de moda, apelos comerciais ou qualquer tipo de vulgaridade e sexualidade explícita, mas isso não impede que se vejam as roupas de Ronaldo Fraga com sensualidade. São rendas, babados e bordados que implicam uma feminilidade calcada de conceito nas peças de Ronaldo. A sensualidade está em uma mulher inteligente, já que o estilista não faz roupas para pessoas sem cenário, sem lembranças, sem humor e sem história.
Aliás, essa personalidade percebida facilmente nas roupas de Ronaldo vem de sua origem mineira. Recatado em suas formas mas com o barroco das cidades mineiras muito bem trabalhado nos detalhes de suas criações que podem ser chamadas de luxuosas, onde o luxo implica a escolha dos elementos integrantes da composição de sentidos, nem sempre caros os suntuosos, mas associados a um modo de fazer muito caprichoso e reflexivo, elevando o que é visto como simples ao mesmo patamar do luxo.
Ronaldo Fraga tem lojas em Belo Horizonte e São Paulo e, fora sua coleção para crianças, carinhosamente chamada de Ronaldo Fraga Para Filhotes, não vende suas roupas em lojas multimarcas e não exporta suas criações. Também ainda não entrou na onda dos grandes conglomerados de moda e não pretende entrar, acreditando que cada estilista deve ser bem claro com o tamanho que quer ter.
Com isso Ronaldo se arrisca em tempos em que a moda brasileira é cada vem mais reconhecida fora do país e que grandes grupos se formam comprando marcas brasileiras, mas, ao mesmo tempo, mostra uma fidelidade à moda e ao mercado de moda brasileiros. Com seu trabalho, ainda fortalece cooperativas e comunidades que participam ativamente de suas produções. Ronaldo é fã (e ídolo) de suas costureiras, bordadeiras, parceiras e amigas, e até já dedicou uma coleção e desfile inteiros à sua costureira e braço direito, dona Nilza, no verão 2005/2006, sempre estimulando a apropriação da identidade brasileira.
Além dessas parcerias com as bordadeiras, Ronaldo já fez parcerias com outros meios assinando produtos como as latinhas para papel higiênico Neve e garrafas de vinho Miolo e considera esse dialogo entre moda e outras frentes muito importante contanto que o estilista em questão no projeto consiga manter sua identidade de marca.
Em sua última coleção, para o verão de 2011, Ronaldo Fraga teve o tema Turista Aprendiz, baseado nas viagens etnográficas de Mario de Andrade pelo Norte e Nordeste do Brasil entre 1927 e 1929. Utilizando tons claros de rosa, azul, verde e amarelo, além do branco e bege, o estilista brincou com linho, seda e bases de algodão, juntamente com o tecido carro chefe da coleção, um incrível e belíssimo jacquard imitando renda que trazia aos olhos do espectador o clima cultural dessas regiões brasileiras trabalhadas por Ronaldo. As formas arredondadas das peças desfilaram sobre uma passarela e cenário de azulejos que imitavam as rendas das roupas e criavam a atmosfera ideal para o conceito do estilista. A beleza de Marcos Costa trazia perucas que lembravam as perucas usadas pelos dançarinos de maracatu do norte do país junto com um par de óculos escuros simbolizando o lado turista de sua criação. O desfile de verão 2011 de Ronaldo Fraga foi mais um dos espetáculos sempre promovidos pelo criador, e lá estavam todas as características que fazem de Ronaldo um artista; a moda, as peças cuidadosamente criadas e produzidas, o conceito, a linguagem, o social e o Brasil.
Analisando seus desfiles espetáculos, fica claro que, para Ronaldo Fraga moda é mais que tudo, linguagem. A linguagem que faz da moda uma espécie de escrita, documentando o social, o político e o cultural. Ronaldo Fraga é o exemplo maior na moda brasileira se quisermos ver a moda como arte, fora dos estereótipos de futilidade. Uma moda conceitual que não é feita apenas para vestir mas para se pensar. Ronaldo trilha um caminho a tornar-se a marca mais reconhecida em moda como ciência no Brasil, considerando seu caráter de documentação do tempo, capaz de exprimir relações sociais e culturais agregando sempre humor, crítica social e ousadia.


Nessa temporada de Inverno 2012, Ronaldo Fraga não fará seu desfile no SPFW mas lançará, no lugar, o livro "Caderno de Memórias, Roupas e Croquis" que eu pretendo comprar na hora!
Achei muito interessante a proposta de Ronaldo com essas férias da semana de moda. Uma maneira de repensar a moda brasileira e os caminhos que ela vem seguindo. E nada mais válido para um estilista que acima de tudo é um pensador e um artista fazer disso tudo um livro. Fico cada vez mais fã.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Sou fútil, faço moda."

Sou frequentadora assídua e assumida dessa moda dos blogs de moda. Acompanho vários! Tenho uns 10 entre meus favoritos do computador. Uns melhores outros piores... O que gosto nos blogs é que mostram a moda real, de pessoas reais. 

Será?

Percebi que não. 

Primeiro que a grande parte dessas blogueiras, pelo menos as mais seguidas e conhecidas, são patrocinadas, o que gera uma certa desconfiança na veracidade de parte dos posts. Segundo, que moda é uma resposta da sociedade na maneira mais subjetiva possível do ser humano e ninguém, afirmo, ninguém, gostando ou não, interessando-se ou não, escapa da moda. E por isso que acredito que a moda deva ser levada mais a sério. Já é difícil fugirmos do esteriótipo de fúteis quando nos interessamos, estudamos e acompanhamos o "universo fashion". Se podemos usar a internet pra divulgar amplamente esse mundo para as pessoas porque não aproveitar pra fazer isso de maneira séria?

E isso se estende também para as revistas. Costumava comprar a Vogue Brasil todo o mês, mas admito que grande parte das vezes sentia vergonha de estar lendo algumas reportagens com jargões idiotas que menosprezam os leitores e afirmam ainda mais o esteriótipo fútil dos interessados no assunto.

E terceiro, e mais importante, é porque eu não acredito em ninguém que seja brasileiro e tenha uma Chanel. 

Mas claro que também tem muita gente que vê a moda de uma maneira que me interessa mais. Passei a comprar a Harpers Baazar Brasil que está apenas em seu terceiro mês mas, pelo menos por enquanto tem me deixado mais satisfeita com matérias mais bem escritas. Pra mim, a Maria Prata, editora chefe da revista, é alguém que tem uma visão inteligente. Outro ótimo exemplo de ver a moda de maneira mais inteligente é esse vídeo da Cris Guerra do Hoje Vou Assim


Tentarei, de vez em quando, postar aqui algumas idéias e visões minhas sobre a moda e sobre a relação moda/arte que tanto me interessa, tentando fazer isso da maneira mais interessante e inteligente que puder!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pequeno Hitler



"Um homem que beija um homem merece morrer." 

Foi a frase absurda que eu ouvi ontem no James. Sim! No James!
Pra todos que moram ou conhecem Curitiba sabem que o James não é um bar gay, mas é muito frequentado pelo público gay. E pra quem me conhece, sabe que é meu lugar preferido pra sair aqui na capital do teatro de fantoches.

A frase já seria absurda e proferida por uma pessoa, com certeza, acéfala em qualquer lugar que fosse, mas no James? Foi por isso que eu, assumidamente tímida, virei para trás e me intrometi na conversa alheia. 

Conversei educadamente com o pobre menino desprovido de inteligencia de 19 anos que, é claro, frequentava o bar pela primeira vez e tinha ficado indignado com o que via no local. O que eu disse é que o garoto guardasse suas opiniões pra si mesmo e respeitasse o lugar e quem lá frequentava. Ele me respondeu que tinha o direito de proferir sua opinião (claro que ele não usou e nem sabe o que significa a palavra 'proferir') já que estamos em um país livre. 

Respondi que era lindo esse espírito de liberdade de expressão mas que o que ele fazia era chamado de falta de respeito. A conversa ainda durou alguns minutos até a pobre criança concordar comigo e pedir desculpas se chamando de Hitler. 

Foi muito bom poder discutir e botar pra fora nossa indignação com uma pessoa quando a gente ouve uma besteira desse tipo, ainda mais quando conseguimos fazer isso de maneira calma e educada. 

Calma e educada somente porque sou fracote e mulherzinha, se não teria enchido o piá de bosta de porrada!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

É como se estivessem vivendo a minha vida, sem a minha participação. Todos fazem parte dela, menos eu. Enquanto isso eu fico me preparando pra algo futuro que eu não sei o que é e, muito menos, se acontecerá. 
Não tenho expectativa nenhuma de melhoras. E nem mais esperanças de que essas expectativas apareçam. E agora eu só espero. E não esperar de ter esperanças, apenas de esperar. E esperar... e esperar... e esperar...


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Moda na arte e arte na moda.


O texto que posto em seguida é o texto que produzi para o Laboratório de Crítica de Arte dessa Bienal de Curitiba. Nele, trato dos meus dois assuntos preferidos: arte e moda, e de como a relação entre os dois é peculiar. O texto é meio longo e, segundo crítica especializadíssima, o começo é chato, mas, pra quem tiver paciência... aí vai!!!

Sonia Delaunay

O LAB#4 já começou como uma experiência proveitosa no primeiro dia, primeiro instante: o das apresentações. Surpresa foi que não era a única, e nem éramos poucos, os participantes (estudantes ou ex-estudantes) do campo da moda. A presença do pessoal da moda instigou-me, ainda mais, uma curiosidade já vigente nos meus pensamentos sobre arte.
Para nós, da área, é clara, e inegável, a relação existente entre arte e moda. Mas como se dá essa relação?
A presença do universo do vestuário nas artes visuais é comum e perceptível. Podemos dizer que as duas, arte e moda, originaram-se do adorno e por isso possuem uma raiz em comum que gerou uma intervenção mais aparente a partir da Art Nouveau, no séc. XIX.
Começamos com Henry Van de Velde criando os Künstlerkleid, que podemos traduzir como vestidos artísticos, para o Wiener Werkstätte, ateliês que juntavam arquitetos, artistas e designers contra o academicismo na Viena de 1903. Ateliês esses que Gustav Klimt fazia parte e para quem desenhou várias vestimentas. Klimt é um bom exemplo da mistura arte/moda com as vestimentas que produzia em seus quadros que misturavam sonhos e carnalidades num conceito quase freudiano.
Sonia Delaunay Terk, inspirada pelo cubismo, criadora dos vestidos poemas era contemporânea de Coco Chanel e Elia Schiaparelli, estilistas que também participavam dos movimentos artísticos de vanguarda e não raras vezes faziam parcerias com os artistas.
As vanguardas do início do século XX tem relações estreitas com a moda. Os trajes futuristas de Giacomo Balla, as parcerias de Sonia Delaunay com Tristan Tzara, líder do dadaísmo, as experimentações com vestuário como suporte feitas pelos surrealistas a exemplo de Dalí (amigo próximo de Chanel).
É ainda mais fácil relacionar exemplos mais recentes da participação da moda na arte. Flávio de Carvalho e suas experimentações com a vestimenta brasileira, Andy Warhol e seus slogan dresses, Oiticica e os Parangolés, Lygia Clark e suas roupas sensoriais, Nelson Leirner e os vestidos Stipncores (que não por pouco aparecem na revista de moda Vogue ainda hoje).
Esses foram fatos da história da arte que exemplificam a utilização de recursos da moda nas artes visuais, mas não é difícil percorrer o caminho no sentido inverso recrutando exemplos da utilização da arte no mundo da moda. Não se estendendo nos exemplos desse viéz, que não é o foco do texto, cito o estilista Jum Nakao e suas roupas-obras de papel, Tunga num desfile para a marca brasileira M. Officer, reproduções de pinturas renascentistas na campanha do designer de calçados Christian Louboutin, e principalmente a invasão de exposições de roupas em museus e galerias de arte.
A relação fica ainda mais clara quando enxergamos os desfiles de moda como performances artísticas. O objetivo desses desfiles, como na arte, é proporcionar ao público uma experiência, levar ao estranhamento e não, necessariamente, à beleza.
Até faço relação de uma frase muito ouvida no mundo da moda (“ninguém usaria isso na vida real”) com uma frase muito ouvida no mundo da arte (“isto até eu faria”) para ligar esses dois universos em pelo menos uma questão comum: a criação de um conceito.
Esses dados exemplificam a relação arte/moda, mas não a explicam. Seria possível definir uma única perspectiva pela qual examinar os dois universos? Ou definir uma especificidade da arte e uma especificidade da moda? Ou afirmar que a moda se tornou arte e que os estilistas são criadores estéticos da contemporaneidade usurpando o papel dos artistas?
Considero que moda não é arte por um fator simples: o processo produção/comercialização/consumo. A moda é, independente de seu nível e sua aura de arte, um produto de massa. A moda tem uma função e é a função que a distingue da arte.
A partir disso entro numa questão amplamente discutida (e difícil de fugir) nos encontros do LAB#4: o sistema e o mercado. Questão natural ao se tratar de moda e tão complexa e controversa ao se tratar da arte.
O mercado de arte contemporânea bebe do mercado da moda, suas estratégias, seu meio de comunicação, sua promoção e seu viéz glamoroso para gerar visibilidade e escapar de ficar restrita às pessoas ligadas ao setor, amantes e colecionadores. Fato que funciona muito bem na moda mas pode se virar contra a arte quando o poder econômico consegue impor seu funcionamento (velocidade de mudança, culto ao novo) e nega ou aprova tendências artísticas de valor duvidoso num consenso de crédito cultural que na verdade somente esconde um credito econômico e comercial.
É assim que as duas áreas bebem do sistema uma da outra: enquanto a moda se utiliza da arte como acesso à alta cultura artística e invade as galerias; a arte entra no sistema mercadológico da moda muitas vezes se perdendo em valores econômicos e comerciais. (Nessa antropofagia entre as duas áreas não há dúvidas que a arte é que saiu perdendo.)
Impossível isolar o sistema da moda, impossível isolar o sistema da arte, ou criar uma identidade entre os dois ramos fazendo-os gerar um único contexto. Arte e moda participam de um intenso intercâmbio, como acontece com todos os campos da produção material e cultural.
Por serem de criação de conceitos tão semelhantes mas terem distinção tão importante de funcionalidade de funcionalidade, é que explicar essa relação se torna tão complexo, se não, pra mim, nesse LAB#4, impossível.


Ouvindo: Caetano Veloso - Clarice

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

...


"Viro para um lado e para o outro e parece que a cama triplicou de tamanho.
Mexo e remexo e nenhuma posição parece confortável.
Escuto, em meio ao silêncio do quarto escuro, somente o barulho do meu coração. Por um minuto me assusto: parece que ele bate fraco... baixinho...
Mas de repente percebo! É você que faz falta no espaço da cama. Me contraio deixando o teu lugar.
E nenhuma posição é confortável sem teu braço embaixo do meu pescoço. 
E o coração? Não bate fraco, só bate sozinho. Me acostumei a ouvir, no silêncio, nossos corações batendo juntos. Assim, sim, eles batem forte."

sábado, 17 de setembro de 2011

O bom filho (italiano) à casa torna.

Hora de tirar um pouco da poeira desse blog.

Pra quem não sabe, estou de volta em Curitiba! Não inteira, já que deixei um pedação meu por lá (um pedação de 'coxa gostosa').

Voltar para casa é quase tão difícil (se não mais) que sair. Dessa vez você não precisa aprender a fazer comida, lavar roupa, limpar o banheiro, mas precisa aprender a ter paciência, muita, mas muita paciência. Muita!

Minha família é 100% italiana. 100% mesmo! Avós maternos, paternos, bisavós e toda minha arvore genealógica. O que significa que eu estou tendo que aprender a ter muito, mas muito mais paciência do que uma família... normal. Porque nós, italianos, não somos normais.

Sugiro para quem está lendo este post que assista o filme Mambo Italiano. Não que eu seja gay e tenha que contar isso aos meus pais, mas só pra dar uma ideia de como as famílias italianas agem. A minha é bem parecida com a do filme... só que pior.

O drama e o sofrimento correm nas veias. Penso que é devido o fato de os italianos (e minha família) serem muito católicos. O sofrimento enobrece a alma e vamos todos para o céu, portanto, nada como um bom sofrimento em terra para garantir a vida eterna.

Minha mãe é craque em sofrer! Agora, por exemplo, decidiu que está com diabetes e tem se dedicado a este sofrimento já que o sofrimento anterior (a dor insuportável e incurável no joelho) passou.

Meus avós são mais adeptos da conversa direta com o Senhor. Acredito que meu avó e Jesus Cristo estudaram juntos. Não só pela idade compatível mas porque meu avô anda falando de Jesus como se fossem amigos íntimos. 

Minha última visita aos meus avós foi um grande sofrimento pra mim (ora, também sou italiana). Em meio a uma conversa aleatória, a qualquer momento, meu avô dizia: "Acho que esse é um bom momento para rezarmos. Pai nosso, que estais no céu..." E todos o seguiam!! Como se aquilo fosse normal! Sentia como se estivesse no meio de um musical, mas no lugar de as pessoas saírem dançando e cantando de repente, todos começavam a rezar. Só eu parecia achar aquilo estranho. Acredito ter sido a única a não receber o roteiro desse musical gospel que minha família insiste em participar.

Mas família não se escolhe. Porque se se escolhesse, ia querer ter nascido em uma família bem pobre africana pra ser adotada pela Angelina Jolie. 

Enfim... de volta a Curitiba. Com muita paciência. E muito sofrimento, que é pra ir direto pro céu!!!


Ouvindo: Billie Holiday - These Foolish Things