terça-feira, 13 de maio de 2008

'História' de amor

Ele era tão inteligente! Só ele falava na nossa relação, prendia a atenção de todos, o que eu achava encantador. Era tão independente, tão seguro de si! Sabia o que falava e ninguém contestava. Foi então que eu me apaixonei perdidamente... Tinha certeza que era o homem certo pra mim, o grande amor da minha vida!

Meu professor de História da quinta série. Ah... ele usava o giz no quadro negro como ninguém! Os óculos fundo de garrafa lhe davam personalidade... e ele tinha até barba!! Nenhum dos meninos com quem eu convivia tinha barba! Oh Deus, que homem!!!

Meu amor era correspondido! Eu sabia que quando ele falava em corte portuguesa, na verdade estava dizendo que eu era a rainha na vida dele! Era nosso código. Nosso amor era lindo! Nos viamos todas as semanas, sem falta! Quando eu ficava doente e não ia aos nossos encontros sei que ele ficava devastado e depois sempre me perguntava o que tinha acontecido e se eu estava bem... Respirávamos amor, comíamos amor, vivíamos só de amor!

Tudo o que ele dizia nos nossos encontros era sagrado pra mim, não queria perder nenhuma palavra, nenhuma jura de amor escondida entre o ciclo de açúcar e a guerra do Paraguai! Estava tudo lá, enquanto ele falava sobre os índios eu já entendia o nome dos nossos filhos e o lugar da nossa lua de mel.

Até que um dia tudo desmoronou. Meu amor, tão forte, tão real tinha sido pisoteado pelo homem da minha vida. Fui até a mesa dele receber uma carta de amor, escondida na prova corrigida sobre a escravidão no Brasil. E lá estava: "100. Parabéns minha bonequinha, queria ter uma filha como você!"

O quê?? Uma filha?? Como assim ele me via como uma filha?? E tudo o que nós vivemos?? Senti meu coração em mil pedaços. Não conseguia entender onde eu havia errado: será que minhas maria chiquinhas estavam tortas? Será que eu errei nos adesivos no caderno? Era isso? Ele não gostava da Hello Kitty? Ou ele tinha outra? Sabia que com a Maria Celeste tirando 100 nas provas era uma concorrência no meu amor!

Mas agora não importavam os motivos... eu tinha perdido meu homem! Estava sozinha neste mundo! Sem ele, sem amor, sem república do café com leite!

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