quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pequeno Hitler



"Um homem que beija um homem merece morrer." 

Foi a frase absurda que eu ouvi ontem no James. Sim! No James!
Pra todos que moram ou conhecem Curitiba sabem que o James não é um bar gay, mas é muito frequentado pelo público gay. E pra quem me conhece, sabe que é meu lugar preferido pra sair aqui na capital do teatro de fantoches.

A frase já seria absurda e proferida por uma pessoa, com certeza, acéfala em qualquer lugar que fosse, mas no James? Foi por isso que eu, assumidamente tímida, virei para trás e me intrometi na conversa alheia. 

Conversei educadamente com o pobre menino desprovido de inteligencia de 19 anos que, é claro, frequentava o bar pela primeira vez e tinha ficado indignado com o que via no local. O que eu disse é que o garoto guardasse suas opiniões pra si mesmo e respeitasse o lugar e quem lá frequentava. Ele me respondeu que tinha o direito de proferir sua opinião (claro que ele não usou e nem sabe o que significa a palavra 'proferir') já que estamos em um país livre. 

Respondi que era lindo esse espírito de liberdade de expressão mas que o que ele fazia era chamado de falta de respeito. A conversa ainda durou alguns minutos até a pobre criança concordar comigo e pedir desculpas se chamando de Hitler. 

Foi muito bom poder discutir e botar pra fora nossa indignação com uma pessoa quando a gente ouve uma besteira desse tipo, ainda mais quando conseguimos fazer isso de maneira calma e educada. 

Calma e educada somente porque sou fracote e mulherzinha, se não teria enchido o piá de bosta de porrada!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

É como se estivessem vivendo a minha vida, sem a minha participação. Todos fazem parte dela, menos eu. Enquanto isso eu fico me preparando pra algo futuro que eu não sei o que é e, muito menos, se acontecerá. 
Não tenho expectativa nenhuma de melhoras. E nem mais esperanças de que essas expectativas apareçam. E agora eu só espero. E não esperar de ter esperanças, apenas de esperar. E esperar... e esperar... e esperar...


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Moda na arte e arte na moda.


O texto que posto em seguida é o texto que produzi para o Laboratório de Crítica de Arte dessa Bienal de Curitiba. Nele, trato dos meus dois assuntos preferidos: arte e moda, e de como a relação entre os dois é peculiar. O texto é meio longo e, segundo crítica especializadíssima, o começo é chato, mas, pra quem tiver paciência... aí vai!!!

Sonia Delaunay

O LAB#4 já começou como uma experiência proveitosa no primeiro dia, primeiro instante: o das apresentações. Surpresa foi que não era a única, e nem éramos poucos, os participantes (estudantes ou ex-estudantes) do campo da moda. A presença do pessoal da moda instigou-me, ainda mais, uma curiosidade já vigente nos meus pensamentos sobre arte.
Para nós, da área, é clara, e inegável, a relação existente entre arte e moda. Mas como se dá essa relação?
A presença do universo do vestuário nas artes visuais é comum e perceptível. Podemos dizer que as duas, arte e moda, originaram-se do adorno e por isso possuem uma raiz em comum que gerou uma intervenção mais aparente a partir da Art Nouveau, no séc. XIX.
Começamos com Henry Van de Velde criando os Künstlerkleid, que podemos traduzir como vestidos artísticos, para o Wiener Werkstätte, ateliês que juntavam arquitetos, artistas e designers contra o academicismo na Viena de 1903. Ateliês esses que Gustav Klimt fazia parte e para quem desenhou várias vestimentas. Klimt é um bom exemplo da mistura arte/moda com as vestimentas que produzia em seus quadros que misturavam sonhos e carnalidades num conceito quase freudiano.
Sonia Delaunay Terk, inspirada pelo cubismo, criadora dos vestidos poemas era contemporânea de Coco Chanel e Elia Schiaparelli, estilistas que também participavam dos movimentos artísticos de vanguarda e não raras vezes faziam parcerias com os artistas.
As vanguardas do início do século XX tem relações estreitas com a moda. Os trajes futuristas de Giacomo Balla, as parcerias de Sonia Delaunay com Tristan Tzara, líder do dadaísmo, as experimentações com vestuário como suporte feitas pelos surrealistas a exemplo de Dalí (amigo próximo de Chanel).
É ainda mais fácil relacionar exemplos mais recentes da participação da moda na arte. Flávio de Carvalho e suas experimentações com a vestimenta brasileira, Andy Warhol e seus slogan dresses, Oiticica e os Parangolés, Lygia Clark e suas roupas sensoriais, Nelson Leirner e os vestidos Stipncores (que não por pouco aparecem na revista de moda Vogue ainda hoje).
Esses foram fatos da história da arte que exemplificam a utilização de recursos da moda nas artes visuais, mas não é difícil percorrer o caminho no sentido inverso recrutando exemplos da utilização da arte no mundo da moda. Não se estendendo nos exemplos desse viéz, que não é o foco do texto, cito o estilista Jum Nakao e suas roupas-obras de papel, Tunga num desfile para a marca brasileira M. Officer, reproduções de pinturas renascentistas na campanha do designer de calçados Christian Louboutin, e principalmente a invasão de exposições de roupas em museus e galerias de arte.
A relação fica ainda mais clara quando enxergamos os desfiles de moda como performances artísticas. O objetivo desses desfiles, como na arte, é proporcionar ao público uma experiência, levar ao estranhamento e não, necessariamente, à beleza.
Até faço relação de uma frase muito ouvida no mundo da moda (“ninguém usaria isso na vida real”) com uma frase muito ouvida no mundo da arte (“isto até eu faria”) para ligar esses dois universos em pelo menos uma questão comum: a criação de um conceito.
Esses dados exemplificam a relação arte/moda, mas não a explicam. Seria possível definir uma única perspectiva pela qual examinar os dois universos? Ou definir uma especificidade da arte e uma especificidade da moda? Ou afirmar que a moda se tornou arte e que os estilistas são criadores estéticos da contemporaneidade usurpando o papel dos artistas?
Considero que moda não é arte por um fator simples: o processo produção/comercialização/consumo. A moda é, independente de seu nível e sua aura de arte, um produto de massa. A moda tem uma função e é a função que a distingue da arte.
A partir disso entro numa questão amplamente discutida (e difícil de fugir) nos encontros do LAB#4: o sistema e o mercado. Questão natural ao se tratar de moda e tão complexa e controversa ao se tratar da arte.
O mercado de arte contemporânea bebe do mercado da moda, suas estratégias, seu meio de comunicação, sua promoção e seu viéz glamoroso para gerar visibilidade e escapar de ficar restrita às pessoas ligadas ao setor, amantes e colecionadores. Fato que funciona muito bem na moda mas pode se virar contra a arte quando o poder econômico consegue impor seu funcionamento (velocidade de mudança, culto ao novo) e nega ou aprova tendências artísticas de valor duvidoso num consenso de crédito cultural que na verdade somente esconde um credito econômico e comercial.
É assim que as duas áreas bebem do sistema uma da outra: enquanto a moda se utiliza da arte como acesso à alta cultura artística e invade as galerias; a arte entra no sistema mercadológico da moda muitas vezes se perdendo em valores econômicos e comerciais. (Nessa antropofagia entre as duas áreas não há dúvidas que a arte é que saiu perdendo.)
Impossível isolar o sistema da moda, impossível isolar o sistema da arte, ou criar uma identidade entre os dois ramos fazendo-os gerar um único contexto. Arte e moda participam de um intenso intercâmbio, como acontece com todos os campos da produção material e cultural.
Por serem de criação de conceitos tão semelhantes mas terem distinção tão importante de funcionalidade de funcionalidade, é que explicar essa relação se torna tão complexo, se não, pra mim, nesse LAB#4, impossível.


Ouvindo: Caetano Veloso - Clarice

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

...


"Viro para um lado e para o outro e parece que a cama triplicou de tamanho.
Mexo e remexo e nenhuma posição parece confortável.
Escuto, em meio ao silêncio do quarto escuro, somente o barulho do meu coração. Por um minuto me assusto: parece que ele bate fraco... baixinho...
Mas de repente percebo! É você que faz falta no espaço da cama. Me contraio deixando o teu lugar.
E nenhuma posição é confortável sem teu braço embaixo do meu pescoço. 
E o coração? Não bate fraco, só bate sozinho. Me acostumei a ouvir, no silêncio, nossos corações batendo juntos. Assim, sim, eles batem forte."

sábado, 17 de setembro de 2011

O bom filho (italiano) à casa torna.

Hora de tirar um pouco da poeira desse blog.

Pra quem não sabe, estou de volta em Curitiba! Não inteira, já que deixei um pedação meu por lá (um pedação de 'coxa gostosa').

Voltar para casa é quase tão difícil (se não mais) que sair. Dessa vez você não precisa aprender a fazer comida, lavar roupa, limpar o banheiro, mas precisa aprender a ter paciência, muita, mas muita paciência. Muita!

Minha família é 100% italiana. 100% mesmo! Avós maternos, paternos, bisavós e toda minha arvore genealógica. O que significa que eu estou tendo que aprender a ter muito, mas muito mais paciência do que uma família... normal. Porque nós, italianos, não somos normais.

Sugiro para quem está lendo este post que assista o filme Mambo Italiano. Não que eu seja gay e tenha que contar isso aos meus pais, mas só pra dar uma ideia de como as famílias italianas agem. A minha é bem parecida com a do filme... só que pior.

O drama e o sofrimento correm nas veias. Penso que é devido o fato de os italianos (e minha família) serem muito católicos. O sofrimento enobrece a alma e vamos todos para o céu, portanto, nada como um bom sofrimento em terra para garantir a vida eterna.

Minha mãe é craque em sofrer! Agora, por exemplo, decidiu que está com diabetes e tem se dedicado a este sofrimento já que o sofrimento anterior (a dor insuportável e incurável no joelho) passou.

Meus avós são mais adeptos da conversa direta com o Senhor. Acredito que meu avó e Jesus Cristo estudaram juntos. Não só pela idade compatível mas porque meu avô anda falando de Jesus como se fossem amigos íntimos. 

Minha última visita aos meus avós foi um grande sofrimento pra mim (ora, também sou italiana). Em meio a uma conversa aleatória, a qualquer momento, meu avô dizia: "Acho que esse é um bom momento para rezarmos. Pai nosso, que estais no céu..." E todos o seguiam!! Como se aquilo fosse normal! Sentia como se estivesse no meio de um musical, mas no lugar de as pessoas saírem dançando e cantando de repente, todos começavam a rezar. Só eu parecia achar aquilo estranho. Acredito ter sido a única a não receber o roteiro desse musical gospel que minha família insiste em participar.

Mas família não se escolhe. Porque se se escolhesse, ia querer ter nascido em uma família bem pobre africana pra ser adotada pela Angelina Jolie. 

Enfim... de volta a Curitiba. Com muita paciência. E muito sofrimento, que é pra ir direto pro céu!!!


Ouvindo: Billie Holiday - These Foolish Things

terça-feira, 17 de maio de 2011

Retrospective Guy Bourdin


São ainda poucas as exposições de nomes importantes internacionais que aparecem fora do eixo Rio/São Paulo, então, quando aparece algo nesse sentido, não dá para deixar de comparecer. É o caso desta exposição de Guy Bourdin que está no MAC e traz uma retrospectiva de trabalho do fotografo.

Segundo o encarte da exposição, as fotografias de Guy Bourdin remetem à Alfred Hitchcock. Pode ser. Mas remetem ainda à François Truffaut quando Blow Up surge instantaneamente em nossas cabeças em alguns trabalhos do artista. Artista porque emerge da condição de fotografo de moda para pintar verdadeiras obras de arte contemporânea através de suas fotos.

Se dentro da fotografia de moda sua influencia é inegável, outras áreas beberam perceptivelmente da fonte de Guy Bourdin, e fica impossível não remetermos à David Lynch, outro gênio do cinema, que tem claramente traços de Guy Bourdin tanto na fotografia como na atmosfera sexual de seus filmes.

Mas o que mais chama atenção observando as telas de Guy Bourdin é pensar na importância do artista na vanguarda da fotografia de moda. Pensar em certas imagens nas páginas da Vogue francesa ou da Marie Claire da década de 70 é curioso e chega a ser divertido. Com certeza, junto com Irving Penn e Helmut Newton, Guy Bourdin faz parte dos grandes nomes vanguardistas da fotografia de moda e também da arte contemporânea.

Arte contemporânea, moda, cinema. Tudo está presente no trabalho do fotografo, o que torna a exposição ainda mais imperdível.



A exposição Retrospective Guy Bourdin está no MAC de Porto Alegre que fica no sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, até 10 de junho.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Regina Silveira - Mil e um dias e outros enigmas.

Regina Silveira tomou conta da Fundação Iberê Camargo, literalmente.

A exposição começa do lado de fora onde já se vê a palavra LUZ projetada gigante na fachada do prédio. Antes de se chegar às salas expositivas, entrando no museu, se vê os primeiros trabalhos. Grandes imagens aplicadas na parede brincam com a percepção do espectador criando uma ilusão de tamanho e profundidade. Um grande botão de roupas é costurado na parece por uma grande agulha que continua fincada em uma das grandes paredes do “interior do cubo branco” da Fundação.

A artista brinca com proporções propondo uma espécie de jogo de luz, sombra e objeto com o espectador, além de provocar sensações intrigantes com um ambiente tomado por insetos gigantes.

O aspecto formal da exposição é trabalhado perfeitamente, incluindo os desenhos preparatórios para as obras, e a integração com o ambiente é impecável. É feita para que se consiga penetrar no universo dessa artista (que há tempos, em suas obras, vem trabalhando a percepção e a forma como a realidade é representada), e para que desvendemos o universo das coisas a nossa volta por uma perspectiva de aparências.

A exposição de Regina Silveira é lúdica! No melhor sentido da palavra lúdica.


Dica: nem precisa ir até o último andar ver as obras do Iberê Camargo do acervo. (desculpa, Iberê, mas te acho chato.)


Exposição em cartaz até o dia 29 de maio na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre.