quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Julinho da Adelaide

Historicamente, Chico Buarque começou a escrever suas letras no momento em que o discurso poético brasileiro denegava o Concretismo e rejeitava a violência dogmática do regime militar.

Posso aqui dividir sua obra da época da ditadura em duas etapas. No começo da ditadura militar é marcada por composições "nostálgicas" na busca por um tempo de paz e liberdade (ex.: A Banda, de 1966 e Noite dos Mascarados, do mesmo ano) onde a festa e a alegria substituem a tristeza da vida sofrida. Já numa segunda fase, a partir da década de 70, quando a repressão e a censura se acirrava, revelou-se um maior senso crítico do artista, cuja preocupação passou a ser a compreensão do dia a dia daqueles que considerava excluídos (ex.: Construção, no qual relata a difícil vida de um operário que se deixar de existir não fará falta à sociedade).

Acaba assim por criar, mesmo no início da ditadura militar, um conceito novo de "brasilidade", aproximando o país das pessoas e essas do engajamento político. Uma brasilidade distinta daquela das músicas como Aquarela do Brasil de Ary Barroso. Não se tratava mais de cantar as belezas naturais e humanas do país, mas tentar representar o Brasil de modo realista, quase antropológico.

A peça Roda Viva, de 1968, foi o grande marco dessa mudança de visão do poeta. Denunciava a opressão imposta pelo regime militar. Regime que representava o fim da liberdade de expressão.

Roda Viva, conforme o dicionário é "movimento incessante, corrupio, cortado; confusão, barulho. E a letra fala sobre ações frustradas pela Roda Viva. Fala sobre o vendaval que arrebata a voz, o destino das pessoas e a capacidade de se exprimir artisticamente seus sofrimentos. Arrebata-lhes ainda a viola ("a gente toma a iniciativa/ viola na rua a cantar/ mas eis que chega a Roda Viva/ e carrega a viola pra lá"). Também arrebata a roseira há tanto cultivada ("faz tempo que a gente cultiva/ a mais linda roseira que há") e que não teve tempo de exibir tudo o que prometia.

Os movimentos descritos na letra são de trabalho em curso e de sucessiva frustração. Isso descreve muito a experiência brasileira, tanto no ponto de vista social e político como do ponto de vista cultural e artístico. Mas o ambiente de tanto mal estar foi filtrado por Chico Buarque com muita cautela pois era preciso despistar a censura, daí a profusão de rodas e versos encantatórios.

Após Roda Viva, o artista ainda realizou outros trabalhos teatrais como Calabar, o elogio da traição, de 1973 e censurado na época, Fazendo Modelo de 1974, Gota D'água de 1975 (que é linda, linda, linda mesmo) e a Ópera do Malandro em 1978 (minha preferida!!!).


Enfim, seja como canção de protesto, reflexo da sociedade, canção popular, usada para análise ou peças de teatro, as obras de Chico Buarque estão, e sempre estarão, presentes na história do povo brasileiro.

(...) "Nem toda loucura é genial,
Como nem toda lucidez é velha."

Francisco Buarque de Holanda


Fazer trabalho sobre o Chico Buarque, não tem preço!

2 comentários:

Rafael Budni disse...

o.O
já fiz os comentários devidos no msn, mas cara, sério, coisa incrível isso. deu até vontade de ouvir toda a discografia dele.

é muito mais fácil ficar de chico quando fico de chico com você, hahahahaha

brunobatocchio disse...

pelo menas nao vou precisar fazer o trabalho de historia da arte, rá!